Marcelo Dutra da Silva
O capitalismo stakeholders
Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
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O modelo econômico vigente é perverso, excludente e ultrapassado. Seu funcionamento está baseado no crescimento contínuo da economia, no uso abusivo da natureza e na ideia de que temos estoque inesgotável de recursos, o que é absolutamente irreal e equivocado. A Terra é única e as evidências mostram que nesta direção e ritmo que caminhamos o fim chegará mais rápido. O Planeta aqueceu e enquanto o desmatamento avança e a biodiversidade desaparece, a água troca de lugar e o clima se transforma. A culpa é toda nossa e se não mudarmos nossa percepção, práticas e comportamentos, o fim será inevitável e se apresentará na forma de um grande colapso global.
Portanto, o modelo capital como está posto, de exploração máxima e degradação do meio ambiente, não se sustenta mais e vem perdendo capacidade de promover desenvolvimento, já que os benefícios de uma parte menor se dão em detrimento do esforço de parte maior. Ou seja, um modelo que também não é justo. Mas, seria possível desenvolver um capitalismo consciente, uma versão mais humanizada como o conhecemos? A ciência da sustentabilidade diz que sim e a ideia vem sendo construída há décadas.
Os negócios não se limitam aos lucros, à geração de emprego, renda e receita pública, mas também agregam valores relacionados à qualidade de vida da sociedade. Por isso o capitalismo de stakeholders também é chamado de "capitalismo consciente". Seguem as preocupações em melhorar os lucros a curto prazo para os acionistas, mas também a necessidade de criar valor a longo prazo, considerando as necessidades não só da empresa, mas de toda a sociedade. No capitalismo consciente stakeholders as empresas valem pelo que representam e não tanto pelos produtos ou serviços que oferecem na disputada fatia do mercado. O valor tem novos significados, em que pesam a qualidade, o compromisso, o retorno social e a responsabilidade ambiental da empresa e seu impacto na sociedade e no ambiente de negócios.
O termo capitalismo stakeholders foi cunhado por Klaus Martin Schwab, um engenheiro e economista alemão, que fundou em 1971 o European Symposium of Management, organizado em Davos, Suíça, que mais tarde (1987) tornou-se o World Economic Forum, do qual o Brasil participa todos os anos. Foi uma espécie de chamado para todos que apostam na economia global que façam sua parte para melhorar o mundo ao redor, para que promovam economia global que trabalha para o progresso, às pessoas e o Planeta.
No Fórum Econômico Mundial, a cada edição, procura-se dar uniformidade a métricas e a critérios que devem ser seguidos no mundo dos negócios, por assim dizer. Com a participação de 120 das maiores organizações internacionais, de analistas, investidores e consultores, foi concluído, no final de 2020, o documento chamado "Measuring Stakeholder Capitalism" (Mensurando o Capitalismo de Partes Interessadas) _ uma iniciativa que visa melhorar as formas como as empresas aferem e exibem seu desempenho em relação aos indicadores ESG (Environmental, Social and Governance).
De acordo com o Fórum, empresas que alinham seus objetivos com os da sociedade se encontram mais qualificadas para geração de valor a longo prazo. E negócios que aplicam o capitalismo stakeholders devem se esforçar para alcançar objetivos compartilhados, como os que estão registrados na Agenda de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e no acordo climático de Paris. Uma mudança de comportamento que parece muito distante de algumas realidades, sobretudo de setores da economia que insistem em práticas ultrapassadas de desenvolvimento. No Brasil, por exemplo, o agronegócio e a construção civil estão demorando demais para assumir o capitalismo stakeholders, apesar dos bons exemplos que encontramos em algumas regiões do País. Infelizmente, falta mobilização do poder público e das entidades representativas no estímulo de modos operacionais de impacto positivo das empresas na sociedade e na vida das pessoas.
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